Entre os muitos domingos de dia das mães
comemorados em minha infância, há um que me marcou de maneira especial. Naquele
ano (cuja indicação precisa me escapa), meu pai presenteou minha mãe com um
quadro. Um quadro grande, com a fotografia de uma rosa, gigantesca,
cor-de-rosa. No canto inferior esquerdo do quadro, os seguintes dizeres: “Mãe,
obrigado!”. Lembro-me de ter conseguido ler a frase, o que indica que já estava
na escola, provavelmente na primeira ou segunda série.
Já
conhecia alguns usos da vírgula, porque aquele era para mim simplesmente impossível.
Estava absolutamente convencida de que alguém utilizara a vírgula de maneira
equivocada. Era inconcebível separar minha mãe da palavra “obrigado”, que
expressava toda a minha gratidão. Desta forma, também me lembro de passar muito
tempo em frente ao quadro tentando compreender o porquê daquela vírgula, o que não
era sem angústia, já que, por um lado, não compreendia como puderam deixar
escapar aquela vírgula errada na frase, que era tão curta; por outro, se a
vírgula estava correta, mas disso eu duvidava, que regra se aplicava àquele
uso? Ao ignorar o vocativo, enlaçava minha mãe àquela gratidão, àquele imenso obrigado,
tão imenso e profundo que não havia vírgula capaz de separar um do outro.